1 de Outubro<br>O que está em causa

Ângelo Alves (Membro da Comissão Política)

No pró­ximo sá­bado as ci­dades do Porto e de Lisboa serão palco de duas grandes ma­ni­fes­ta­ções con­vo­cadas pela CGTP-IN contra o em­po­bre­ci­mento e as in­jus­tiças, pela de­fesa do di­reito ao em­prego, ao sa­lário, às pen­sões e à Se­gu­rança So­cial.

O ca­pi­ta­lismo está fe­rido e ata­cará tudo e todos para so­bre­viver

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Estas são ra­zões de sobra para sair à rua e para fazer destas ac­ções po­de­rosas jor­nadas de luta. Mas a sua im­por­tância vai muito mais para além disso. Elas terão uma im­por­tância cen­tral na de­ter­mi­nação das con­di­ções para as duras ba­ta­lhas que se vão se­guir em de­fesa das con­quistas de Abril, da de­mo­cracia e do pre­sente e fu­turo so­be­rano do País.

Si­mul­ta­ne­a­mente serão um im­por­tan­tís­simo con­tri­buto para a luta de todos aqueles que mundo fora en­frentam, cara na cara, a cri­mi­nosa ofen­siva do im­pe­ri­a­lismo. Serão um es­tí­mulo para aqueles que ex­postos à chan­tagem do medo e do con­for­mismo vêem na luta dos seus iguais, onde quer que eles es­tejam, um acto de pro­funda dig­ni­dade e um im­pulso mais para in­ten­si­ficar a luta e cons­truir fu­turo.

Ter a cons­ci­ência de que sair à rua, dando ex­pressão de massas à nossa in­dig­nação e ao nosso di­reito de viver com dig­ni­dade e de­cidir do nosso pró­prio des­tino, con­fe­rindo à nossa pró­pria acção in­di­vi­dual o ca­rácter co­lec­tivo de um grito e de uma acção or­ga­ni­zada, de­mons­trando onde está a ver­da­deira força que pode trans­formar o mundo, é, nos dias que vi­vemos, de vital im­por­tância para cada um de nós, para todo o nosso povo e para a Hu­ma­ni­dade. É esta a im­por­tância real e cen­tral da­quilo que se vai passar no sá­bado.

O sis­tema ca­pi­ta­lista está mer­gu­lhado numa pro­fun­dís­sima crise da qual não está a con­se­guir sair nos marcos dos seus dogmas po­lí­ticos, ide­o­ló­gicos e eco­nó­micos. Es­tamos pe­rante uma crise que na sua mais pro­funda es­sência não é aquela que apa­rece nos jor­nais – uma «mera» crise fi­nan­ceira e eco­nó­mica. Não! Es­tamos a viver uma si­tu­ação his­tó­rica de rá­pido e abrupto apro­fun­da­mento da crise es­tru­tural do sis­tema ca­pi­ta­lista que es­can­cara a sua prin­cipal con­tra­dição e que traz para a luz do dia a evi­dência dos seus li­mites his­tó­ricos, a sua na­tu­reza ex­plo­ra­dora, opres­sora e cri­mi­nosa, assim como as con­tra­di­ções entre os seus prin­ci­pais agentes e de­fen­sores.

O que as inú­meras de­cla­ra­ções e reu­niões dos prin­ci­pais cen­tros de co­or­de­nação do im­pe­ri­a­lismo – in­cluindo da União Eu­ro­peia – re­a­li­zadas na úl­tima se­mana de­mons­tram é que as classes do­mi­nantes só têm uma res­posta para a crise: ten­taram, e vão con­ti­nuar a tentar, trans­ferir para os tra­ba­lha­dores e os povos os custos da sua crise, usando para tal os es­tados e as ins­ti­tui­ções do im­pe­ri­a­lismo que con­trolam. Querem, e vão con­ti­nuar a querer, que o grande ca­pital – o seu Deus, a sua razão de existir – con­tinue a ditar os acon­te­ci­mentos. Op­taram, e vão con­ti­nuar a optar, por um salto qua­li­ta­tivo na re­co­lo­ni­zação do pla­neta, mas­sa­crando po­pu­la­ções, sub­ju­gando es­tados e os seus povos. De­ci­diram, e vão con­ti­nuar a de­cidir, calar todos os que falam ver­dade e não se sub­metem.

 

O mundo não está con­de­nado à bar­bárie

 

Mas tudo isto não é um sinal de força, é de fra­queza! As de­cla­ra­ções de Merkel e de Obama, sujas e po­dres de ódio contra os povos da Eu­ropa, ame­a­çando com o re­tro­cesso ci­vi­li­za­ci­onal e apon­tando o ca­minho do co­lo­ni­a­lismo do sé­culo XXI, não são provas de co­ragem. São de medo e de fra­queza! E é por isso que dra­ma­tizam no­va­mente o dis­curso da crise para, ater­ro­ri­zando os povos com o dis­curso apo­ca­líp­tico da eco­nomia mun­dial, abrir mais campo ao terror so­cial e ao roubo or­ga­ni­zado da mais-valia pro­du­zida, en­tre­gando-a ao ca­pital fi­nan­ceiro e fi­nan­ci­ando as guerras im­pe­ri­a­listas.

O ca­pi­ta­lismo está fe­rido e a san­grar. Mas como qual­quer fera fe­rida ata­cará tudo e todos para so­bre­viver. É então ne­ces­sário, agora que a crise entra agora numa fase qua­li­ta­ti­va­mente nova, de­sen­volver, fazer pulsar o factor sub­jec­tivo da luta. Aquele que – numa si­tu­ação de pro­fun­dís­sima agu­di­zação da luta de classes e de acu­mu­lação de fac­tores ob­jec­tivos para o de­sen­vol­vi­mento da luta – pode de facto de­mons­trar que os li­mites do sis­tema foram ul­tra­pas­sados e que a ta­refa con­creta e pos­sível é a su­pe­ração do ca­pi­ta­lismo e a cons­trução da al­ter­na­tiva – o So­ci­a­lismo.

A re­a­li­dade de­monstra, como sempre de­mons­trou a His­tória, que esse ca­minho está nas mãos e na von­tade dos tra­ba­lha­dores e dos povos. São eles, somos nós, os ar­tí­fices e os de­ten­tores da força ne­ces­sária para, etapa a etapa, luta a luta, vi­tória a vi­tória, abrir, tri­lhar e alargar os ca­mi­nhos da al­ter­na­tiva. E é no fundo isto que se vai passar no sá­bado… Porque o mundo não está con­de­nado à bar­bárie de um ca­pi­ta­lismo em pu­tre­facção. Que nin­guém falte à cha­mada!



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